A quem interessa o medo?
Hoje na primeira página do UOL, fomos brindados com uma chamada interessante:
“Qual é o assento menos perigoso?” [em um avião]. Claro que o link já me fez levantar o sobrolho. Cliquei.
Ao clicar na chamada, vemos o seguinte título do artigo:
“ESTUDO MOSTRA PARTES MAIS SEGURAS DO AVIÃO EM CASOS DE ACIDENTES” (sic)
Uau, onde está este estudo que eu não fiquei sabendo? Preciso me informar melhor!
Porém, mesmo sem ler o tal estudo sei por experiência que o resultado está errado, e sabemos que números sempre podem ser manipulados não é?
Antes de criticar, fui ler o artigo original da TIME. Lá também consta o besteirol nos primeiros parágrafos, PORÉM, há um pouco de transparência na metodologia usada que faria qualquer um dizer: _ah, tô lendo besteira, vou parar.
Aí está explicado que foi feito um estudo nos últimos 35 anos (o Blog sob o UOL menciona isso), e mais para frente explicam que apenas 17 gráficos de assento puderam ser usados. DEZESSETE acidentes serviram como base para vomitar este estudo ridículo e isto foi OMITIDO no blog do UOL. A TIME continua o texto DESQUALIFICANDO seu próprio argumento:
Este trecho informa que obviamente as chances em um acidente tem mais a ver com o tipo de acidente do que com o lugar em que você senta, ou seja, a TIME derruba seu próprio “estudo” com classe. Esta parte do texto foi completamente omitida na versão do UOL e um trecho para causar mais “impacto” (sorry) foi adicionado:
O trecho sobre tanques de combustível e motores não encontrei no texto que serviu como fonte ao blog do UOL (talvez exista na versão impressa que não tive acesso).
A TIME finaliza assim:
Faço questão de traduzir:
“Uma coisa é certa: Voar é muito seguro, e tem sido cada vez mais nas últimas décadas, especialmente se comparado a outros meios de transporte. As chances de perder a vida em um acidente de carro é de 1 para 112. Como pedestre, as chances são de 1 em 700 e em uma moto, 1 em 900. Em um avião? 1 em 8.000”.
Quase uma redenção ao besteirol de assento seguro, obviamente isto TAMBÉM foi omitido no texto do blog do UOL.
Sabe o que dói? É que muita gente vai ler o texto com chamada na home page de um dos maiores portais brasileiros e ser pessimamente influenciada por uma tradução de um “suposto estudo” que não possui nenhum valor científico e que é totalmente incorreto em argumento e metodologia. Não duvidem de um aumento nas vendas de assentos na fileira do meio na parte traseira, curiosamente, os mais desconfortáveis.
Não admira tanta gente ter que sofrer todo dia para voar com medo por causa dessa banalização de informações.
A quem interessa o medo?