Meu Deus!
Muitos acidentes aéreos noticiados e ainda estamos em Julho! O que está acontecendo?
Estou lendo no UOL que 2014 já tem mais mortos por acidentes aéreos que 2012 e 2013 juntos! Claro que enquanto lia a matéria tremendo de medo, também cliquei no link no meio do texto para relembrar os dez piores acidentes aéreos da história e ter a certeza de que estamos indo pro buraco e nada nos salvará. A partir de hoje vou direto para a rodoviária, agora só viajo de ônibus!
Pare tudo amigo.
Existem diversas maneiras de apresentar dados sobre qualquer assunto, e se a manchete do assunto for “explosiva” (desculpem o trocadilho), melhor ainda. Da maneira que estão sendo noticiados os últimos acidentes, a impressão que se tem é que de repente a aviação passou a ser insegura (a menos que você leia a notícia inteira, prestando bem atenção, aí talvez perceba que a manchete não tem muito a ver com o conteúdo em si).
Vou usar as mesmas fontes de dados que serviram para dar corpo a notícia do UOL, ou seja Flight Safety Foundation e a IATA.
Primeiro ponto a se questionar: O tráfego aéreo cresceu ou permaneceu o mesmo no período analisado? Porque veja bem, se o número de carros em São Paulo aumenta, é esperado que os acidentes também aumentem certo? E é isso que acontece em relação aos automóveis, quanto maior o número deles nas ruas, maior o índice de acidentes (não proporcional obviamente).
E na aviação?
Bem, sabemos que o número de passageiros transportados tem aumentado a cada ano. Então para criar os gráficos abaixo, usei dados da IATA de 2005 a 2013 (2005 foi considerado um dos piores anos em matéria de acidentes/vítimas e os dados de 2014 obviamente ainda não existem).
O número de passageiros transportados entre 2005 e 2013 cresceu 53%! E o número de acidentes acompanhou? O gráfico fala por si só.
Ok, Lito, mas a matéria do UOL é clara, ela fala que o número de vítimas fatais aumentou, não fala sobre o número de acidentes.
Sim amigo, claro que ela não fala do número de acidentes, não tem graça mostrar número baixo, senão a manchete perde impacto. Mas não se pode ver as coisas isoladas, vamos ver o gráfico com os dados apresentados pelo UOL, já considerando o último acidente com o Swiftair em Mali.
Não parece que há algo errado neste gráfico em relação ao outro? Claro que há, o número de vítimas fatais está incompatível com o número de acidentes para os padrões modernos de segurança na aviação civil. Como se explica essa discrepância então?
Simples Gafanhoto, o “acidente” com o Malaysia MH17 não foi acidente, foi crime, e como tal, não poderia entrar em uma estatística de vítimas de acidentes aéreos. Da mesma maneira, o desaparecimento do Malaysia MH370 não foi solucionado e como não se sabe se foi também ato criminoso ou acidente, o número de vítimas também não poderia ser utilizado em estatísticas.
Um gráfico correto, desconsiderando estas vítimas citadas, seria assim:
Agora o gráfico passa a fazer sentido em relação a todo o trabalho que vem sendo desenvolvido nos últimos anos na aviação para reduzir o número de acidentes e caso estes aconteçam, que a possibilidade de sobrevivência seja mais alta. Se eu fosse corrigir o primeiro gráfico dos acidentes, retirando também os dois voos da Malaysia, teríamos 2014 como o ano mais seguro da história da humanidade para se voar, ao contrário do que todos são levados a pensar pelo bombardeio de notícias.
Eu não estou sendo frio e insensível com as vítimas do avião abatido ou do avião desaparecido, minha tristeza em relação a elas é tão grande ou maior do que as de acidentes, mas é preciso ser racional e não colocar todas as coisas no mesmo saco para causar impacto, como a imprensa costuma fazer.
Tuitei há alguns dias sobre um americano que fez uma tabela perguntando se era seguro voar em empresas aéreas que tiveram acidentes no passado, e critiquei dizendo que não é assim que se mede a segurança na aviação.
Aliás, não há um método que se possa medir a segurança. O gráfico acima mostra de uma maneira clara que cada vez existem mais pessoas voando e cada vez menos acidentes, mas isso não é medição de segurança, são estatísticas de acidentes.
Não é possível medir com exatidão a segurança. Não é possível saber quantas decolagens não foram abortadas ontem. Não é possível saber quantos pneus não estouraram, quantos vazamentos não ocorreram, quantas tempestades não foram enfrentadas. E tudo isso acontece todos os dias por causa dos profissionais e pelos procedimentos criados para diminuir ao mínimo a possibilidade de que um erro possa causar um acidente.
Eu poderia falar sobre ônibus e automóveis, mas deixa pra lá.
Fontes consultadas:
Flight Safety Foundation
IATA (Dados da IATA no site Worldbank)