O leitor Anderson Gazetta faz uma pergunta sobre uma experiência que ele passou a bordo para evitar turbulência:
Lito, fiz um trecho recentemente GRU-FOR em um A321, saindo as 23:50 chegando as 02:15. Mais ou menos com uma hora de voo, passamos por uma turbulência de uns 15 min. O comandante prontamente informou a tripulação sobre o que esta ocorrendo e informou que estava fazendo tudo para diminuir o incomodo causado. Entretanto, ele disse que para isso estava descendo o “quanto podia” afim de diminuir a turbulência. Disse também que quanto menor a altitude, maior o consumo de combustível e que uns dos motivos para não poder voar baixo era para não consumir demais o combustivel, pois voando abaixo do que ele relatou não teriamos combustivel suficiente para chegar ao destino.
Isso me levantou dúvidas. Como e porque a altitude influencia no cosumo de combustivel? Aeronaves voam com “sobra” de combustivel?
Antes de começar a explicar a relação entre altitude e consumo de combustível, vamos responder de imediato sua segunda pergunta: NÃO! Nenhuma aeronave voa com sobra de combustível, porque combustível pesa e levar mais peso requer levar mais combustível, logo, nenhuma empresa leva combustível para passear 🙂
O que o piloto falou para os passageiros está certíssimo, vamos entender agora o porquê.
Os motores a jato funcionam com uma mistura muito bem calculada de ar e combustível, ou seja, para uma certa quantidade X de moléculas de ar, são necessárias Y moléculas de combustível. A isto dá-se o nome de razão estequiométrica. Esta razão exata de mistura é que faz com que o motor a jato seja tão eficiente atualmente.
Perceba: quando aumentamos a altitude (nos afastamos da superfície da Terra), a densidade do ar diminui certo?. Uma densidade menor significa que um número menor de moléculas de ar está entrando no motor certo? Para que a razão estequiométrica se mantenha, o número de moléculas de combustível terá que diminuir, concorda? Se reduzirmos as moléculas de combustível, estamos reduzindo o consumo. Mas não é só isso, o fato do ar ser menos denso a altas altitudes também reduz outro efeito indesejável para os aviões: o “arrasto”, que é a força que faz resistência ao movimento através do ar. a força necessária para o avião vencer a resistência do ar. Ar menos denso, menos força o motor precisa fazer, menos combustível para queimar.
Até aqui tudo bem? Vamos entender então porque o piloto disse que poderia não ter combustível suficiente para chegar ao destino se baixasse mais ainda a altitude.
Quando o plano de voo é calculado, vários fatores são analisados: peso do avião, peso da carga, quantidade de passageiros, altitude de voo, carta de ventos e mais outros fatores. Uma vez que tudo isso está definido, um software calcula a quantidade de combustível necessária para fazer o voo, mais uma reserva de combustível para desvios e mais uma quantidade para alternar outro aeroporto. Se durante o voo o piloto alterar a altitude da aeronave [para baixo], o cálculo da quantidade de combustível não vai bater, já que vimos pela explicação acima que mais combustível é necessário para voar mais baixo, percebe?
Apenas para exemplificar, na média cada motor de um 737-800 com winglets consome 1585 kg de combustível por hora voando a 25 mil pés (7625 metros), enquanto voando a 39.000 pés (11.800 metros) consome apenas 988 kg, são 1,2 toneladas a menos de combustível gasto a cada hora de voo se computado os dois motores.
Há outras boas razões para voar bem alto, sendo os fenômenos atmosféricos uma delas. A maioria das tempestades e raios ocorrem próximos à superfície da terra (na Troposfera), devido à concentração de vapor de água, mudanças de temperatura, entre outros. Portanto, quanto mais alto voarmos, maior a chance de evitar turbulências, formações de gelo e outros fenômenos desconfortáveis ao voo.
O ponto negativo de se voar muito alto é que a qualidade do ar respirável diminui muito, por isso os aviões são pressurizados, e o sistema de ar condicionado retira muita umidade do ar.
