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Testemunhas oculares de acidentes aéreos

Por que os investigadores (nem eu) levaram a sério no primeiro momento o que as testemunhas disseram ter visto no acidente com o jato do Eduardo Campos?

Basta ler os comentários no post que escrevi no dia do acidente com o Citation XL para perceber leitores exaltados não entendendo como pode a investigação desconsiderar o que mais de 30 testemunhas “afirmaram” ter visto, que foi uma “bola de fogo” no jato antes dele cair. Em primeiro lugar, não foi desconsiderado, mas continue lendo.

[su_youtube url=”https://www.youtube.com/watch?v=39L9HlYR8bU” width=”640″ height=”360″]no dia[/su_youtube]

Será possível tanta gente estar mentindo?

Bem senhores, para os que ignoram toda a ciência que há envolvida em uma investigação aérea, devo informar que este não foi o primeiro acidente aéreo do mundo, e da mesma maneira que a segurança na aviação cresceu após o estudo de cada acidente, assim também ocorreu o desenvolvimento fantástico da própria investigação de acidentes.

Para muitos investigadores, a única testemunha infalível é um pedaço retorcido de metal

Centenas de pessoas viram o acidente com o voo 587 da American Airlines perto do aeroporto JFK (Kennedy International) em New York no dia 12 de Novembro de 2001. Os ataques às torres gêmeas tinham acontecido alguns meses antes, ainda presente na memória de todos.

Trezentas e noventa e quatro pessoas viram o avião caindo.

De acordo com o NTSB, todas as 394 testemunhas oculares foram entrevistadas e seus depoimentos documentados. 52% disseram que viram fogo enquanto a aeronave ainda estava voando. 22% destes disseram que o fogo estava na fuselagem, enquanto outros disseram que o fogo era no motor direito, outros no motor esquerdo, outros na asa esquerda, asa direita ou em algum outro lugar.

Uma em cada cinco testemunhas disseram que o avião fez uma curva para a direita, e também uma em cada cinco disse que a curva foi para a esquerda.

Um avião se quebrando em voo, como ocorreu com este, pode produzir flashes quando os motores se desprendem da asa, mas a idéia de que o avião pegou fogo é um truque de sua memória“, dizem os investigadores.

Nada disso é surpresa, diz o Dr. Charles R. Honts, um professor de Psicologia da Universidade Estadual Boise e editor do Journal of Credibility Assessment and Witness Psychology.

A memória das testemunhas oculares é reconstrutiva” diz Dr. Honts, que não faz parte da equipe de investigadores. “O maior erro que você pode cometer é achar que a memória é como um videotape, que as imagens ficam lá gravadas e você pode rebobinar, pois na vaerdade não há gravação permanente em nossa cabeça.”

O problema é que as testemunhas oculares instintivamente tentam comparar os eventos com suas experiências passadas.

Quantos acidentes aéreos você já viu na vida real? Provavelmente nenhum. Mas e nos cinemas? Um monte. Nos filmes, sempre tem fumaça e sempre tem fogo

As crianças são as melhores testemunhas

O ex investigador chefe de grandes acidentes do NTSB, Benjamin A. Berman, diz que os pilotos estão entre as piores testemunhas oculares, porque o conhecimento técnico deles podem direcioná-los a rapidamente identificar problemas mecânicos que podem não ter ocorrido na realidade.

As crianças estão entre as melhores testemunhas, porque elas não têm a tendência de interpretar o que viram.”

Há outros casos bem conhecidos de erros cometidos por testemunhas, como o do Boeing 767 da Lauda Air próximo a Bangkok em Maio de 1991. Testemunhas disseram ter ouvido uma bomba e viram o avião caindo em chamas, mas no final ficou provado que foi um problema mecânico em um dos reversores. Aliás, aproveito este acidente para informar que, graças a investigação e a descoberta do que realmente aconteceu, todos os reversores dos motores utilizados pelo Boeing 767 foram modificados e nunca mais ocorreu qualquer incidente desta natureza com o modelo. Tivessem os investigadores acreditado somente nas testemunhas oculares e estaríamos ainda andando sobre terreno arenoso.

Por que os investigadores entrevistam testemunhas então?

Porque no início de uma investigação, TODOS os dados têm que ser levantados, porque nunca se sabe onde possíveis dicas podem levar e ainda o que deve ser descartado.
Tudo que é falado é levado em consideração, porém a análise dos restos de metal retorcido, quando confrontados com os testemunhos, é que prevalecem. Se uma testemunha diz que houve uma explosão e a análise do metal comprova que houve uma implosão, quem está certo?

Não esqueçam também da lógica (sei que muitas pessoas têm dificuldade com esta parte), mas se A+B=C, então A=C-B certo? Muita gente esquece da lógica na hora das teorias mirabolantes sobre o acidente, então siga o conselho que dei lá no dia do ocorrido: contenha seu ímpeto de querer desvendar o que ocorreu, se fosse fácil não demorava tanto a sair o relatório final, pois todas, TODAS as evidências são analisadas e postas à prova por uma comissão de gente (incluindo estrangeiros) que não é ignorante como eu e você. Vocês não têm idéia da expertise envolvida.

Acredite na ciência.
É ela quem faz os aviões voarem.
E é ela quem descobre o que deu errado.

Alguns trechos desse post usaram o New York Times como fonte.

Update 20 Jan 2017 – E como foi provado depois por vídeo, não há bola de fogo nenhuma.

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